domingo, 30 de novembro de 2014

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget




1.    Os períodos gerais do desenvolvimento cognitivo/mental;

            Para Piaget são quatro períodos gerais de desenvolvimento cognitivo/mental:

·      o sensório-motor (0 a 2 anos), a referência é o próprio corpo da criança, transcorrendo num egocentrismo total; deste estágio, peculiar do recém-nascido, a criança evolui cognitivamente, sobrevindo por outros estágios, no fim do período sensório-motor, começa a descentralizar as ações em relação ao próprio corpo e a considerá-lo como um objeto entre os demais. Já é capaz de lidar com deslocamentos invisíveis de objetos externos, ou seja os objetos passam a ter uma realidade cognitiva além da realidade física.
·      o pré-operacional (2 a 6/7 anos) A criança continua em uma perspectiva egocêntrica, pois nota somente a realidade que a afeta. Já exibe explicações como resultado de suas experiências, que podem ou não serem coerentes com a realidade. Através da linguagem, dos símbolos e imagens mentais, começa uma nova etapa do desenvolvimento mental da criança, na qual o pensamento começa a se organizar, embora ainda não seja reversível, ou seja não é capaz de percorrer o caminho cognitivo.
·      o operacional-concreto (7/8 anos até 11/12 anos) Observa-se uma descentração progressiva em relação à perspectiva. O pensamento é mais organizado e possui características lógicas e de reversibilidade. Ela ainda recorre a objetos concretos, ou seja, ainda é incapaz de operar com hipóteses. Para simular o ausente elas partem do concreto.
·      o operacional-formal (11/12 até a fase adulta) Neste período a criança é capaz de raciocinar com hipóteses verbais  e não somente com objetos concretos. Ocorre agora uma manipulação das proposições. O ponto de partida pode ser uma operação concreta mas eles conseguem transcender este estágio. O real passa a ser subordinado ao possível.

2.    Os conceitos de assimilação, acomodação e equilibração;

·      Assimilação: É o processo cognitivo de depositar (classificar) novos eventos em diagramas existentes. É a inclusão de elementos do meio externo (objeto, acontecimento) a um esquema ou estrutura do sujeito. Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui.
·      Acomodação: É a mutação de um diagrama ou de uma estrutura em função das peculiaridades do objeto a ser assimilado. A acomodação pode ocorrer de duas formas, ou seja pode ser feita alternativamente: Ao Inventar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou Transformar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele. Após acomodar, a criança tenta novamente adequar o estímulo no esquema e só então advém a assimilação. Sendo assim, a acomodação não é definida pelo objeto e sim pela celeridade do sujeito sobre este, na tentativa de assimilá-lo. O balanço entre assimilação e acomodação é chamado de adaptação.
·      Equilibração: É o método da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. Uma manancial de desequilíbrio ocorre quando se acredita que uma situação ocorra de determinada maneira, e esta não sucede.


3.    A aprendizagem segundo Piaget e o papel das ações humanas em sua teoria

            Considerando que a teoria de Piaget não é uma teoria de aprendizagem, ou seja, ela é uma teoria de desenvolvimento mental, ele prefere falar em aumento do conhecimento. Dessa forma podemos perceber que só há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação.

4.    As implicações da teoria de Piaget para o ensino de física.

            Para Piaget, a criança constrói diagramas de assimilação com os quais atinge a realidade, no entanto esses esquemas vão evoluindo a medida que a criança se desenvolve mentalmente. Por outro lado, só há aprendizagem quando há acomodação, quer dizer, é preciso que haja uma reestruturação de estrutura cognitiva que resultem em novos esquemas de assimilação.
            A mente humana, acercar-se a funcionar em equilíbrio, ampliando permanentemente seu grau de organização interna e de adaptação ao meio. Todavia, quando este equilíbrio é rompido por experiências não assimilativas, a mente se reestrutura a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio. Para Piaget esse processo que ele chama de equilibração majorante é o fator principal no desenvolvimento mental da criança. É importante que o professor relacione esquemas de assimilação espontâneos do aluno com esquemas de assimilação que ele queira ensinar com o mínimo de desequilíbrio.
            Para o ensino são importantes três aspectos:
·      Os esquemas de assimilação do aluno.
·      Os esquemas que se quer ensinar.
·      Os esquemas do professor.
Um professor, logo, não pode unicamente usar seus esquemas de assimilação e ignorar o dos alunos. Se a assimilação de um novo tópico requer um bom desequilíbrio, passos intermediários devem ser introduzidos para reduzir esse desequilíbrio.
            Outra implicação respeitável da teoria de Piaget é de que o ensino deve ser acompanhado de ações e demonstrações e sempre que possível o aluno deve ter a oportunidade de agir, fazer um trabalho prático. O professor deve deixar de ser um conferencista e estimular a pesquisa e o esforço, ao invés de se satisfazer com a transmissão de soluções já prontas para o alunos. Neste sentido, basta analisar quantos séculos que foram necessário para os pesquisadores alcançassem determinadas informações a respeito de um tema, é portanto absurdo acreditar que o estudantes chegarão as mesmas conclusões em um ano letivo.
             Por fim, para Piaget as supostas aptidões diferenciadas dos bons alunos em Física/Matemática está relacionada a sua capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhe e dado. Os maus alunos nessas matérias, que porém, são bem sucedidos em outras estão na realidade perfeitamente aptos a dominar os assunto que parecem não compreender, contanto que lhe cheguem por outros caminhos.

            São as lições oferecidas que lhes escapam a compreensão e  não a matéria. O insucesso escolar em uma determinada matéria transcorre, então,  da rápida estrutura qualitativa dos problemas que provoca um desequilíbrio tão grande que para muitos alunos não leva a equilibração majorante. Convém, então, trabalhar com esquemas diferenciados para a alcançar a maior parte dos alunos.

  • Fontes:




Teoria de Piaget. Acesso em Out/2014.

MOREIRA, MARCO A., (1942). Teorias da aprendizagem


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A teoria de ensino de Bruner




“É possível ensinar qualquer assunto, de uma maneira intelectualmente honesta, a qualquer criança em qualquer estágio de desenvolvimento" (BRUNER, 1969, pág. 73, 76)

A teoria 

A teoria de Bruner aborda uma participação ativa do estudante no processo de ensino/aprendizagem, ou seja a "aprendizagem por descoberta". Sua teoria prioriza a exploração de alternativas e o currículo em espiral. Para explorar alternativas é necessário ter um ambiente favorável ou conteúdos que permitam alternativas para que o estudante possa alcançar relações e estabelecer similaridades entre as ideias apresentadas. Dessa forma, segundo Bruner é possível favorecer a descoberta de princípios ou relações. Por fim um currículo em espiral permitiria ao estudante a contemplação de um mesmo tema em diferentes níveis de profundidade e modos de representação.

Desenvolvimento intelectual

"O desenvolvimento intelectual baseia-se numa interação sistemática e contingente, entre um professor e um aluno, na qual o professor, amplamente equipado com técnicas anteriormente inventadas, ensina a criança." (BRUNER, 1969)

Para que haja desenvolvimento intelectual o aluno deve ser ativo na construção do seu conhecimento, transformando-o e assimilando-o, esse desenvolvimento depende do nível de amadurecimento e varia com o crescimento, através de refinamentos constantes, sendo dividida em três modos de representação do mundo:

1.    Representação ativa: é a primeira inteligência prática,  trata-se de uma consequência do contato da  criança com os objetos e com os problemas que surgem no meio ambiente em que ela está inserida.
2.    Representação icônica: é a representação por meio de imagens independentes da ação. A criança utiliza imagens mentais que representam os objetos. Sua função é permitir o reconhecimento de objetos quando eles mudam de alguma forma.

3.    Representação simbólica: Ocorre quando a criança consegue representar as coisas por símbolos, sem a necessidade de usar ação ou imagens, e já está em condições de traduzir as suas experiências em linguagem adequada e a receber mensagens  verbais do adulto.

“Através desses três modos de representação, os indivíduos passam por três estágios de processamento e representação de informações: manuseio e ação, organização perceptiva e imagens e utilização de símbolos. A integração é a capacidade do sujeito transcender o momentâneo, desenvolvendo meios de ligar passado-presente-futuro. Um dos pontos chave para o desenvolvimento intelectual são os ambientes abertos, onde a capacidade de representação e integração são estimuladas, através de técnicas provenientes da exposição ao ambiente especializado de uma dada cultura.” (Rosa María E. Moreira Da Costa, Neide Santos, Ana Regina C. Da Rocha em Diretrizes Pedagógicas para Modelagem de Usuário em Sistemas Tutoriais Inteligentes)

As características de uma teoria de ensino segundo Bruner

As predisposições: o ensino deve propiciar a exploração de alternativas por parte do aluno; este processo está ligado a três fatores: ativação; manutenção e direção. A aprendizagem por descoberta deve ser orientada para permitir alternativas que possibilitem a nova solução para uma situação-problema ou permitir uma nova descoberta.
Em relação à estrutura e forma de conhecimento se faz necessário conhecer os fundamentos para contemplar a matéria; a memória humana conserva melhor as informações quando usamos meios mais simplificados para representá-los; contemplar princípios e ideias fundamentais, é ter compreendido algo específico além de mediar a compreensão de coisas semelhantes; é necessário revisitar os conteúdos para ter certeza de que o que está sendo ensinado nas escolas não está muito distante dos conteúdos avançados.
A estrutura de uma matéria tem três características fundamentais: forma da representação utilizada (ativa, icônica e simbólica); economia que está relacionada com a quantidade de informação a ser conservada, a ser processada para resolver problemas ou entender novas proposições; potência efetiva  que se trata da capacidade de relacionar assuntos distintos.
A questão da sequência, na aprendizagem, muitas vezes é intuitiva para grande maioria dos que atuam no ensino. A diferença entre Bruner e outros autores, refere-se ao fato de que ele formaliza a questão, e a coloca em termos operacional identificando: cabedal de informações, estágio de desenvolvimento, natureza da matéria e diferenças individuais, como variáveis para estabelecer a sequência de uma matéria.
            A forma e a distribuição do reforço é vista de forma diferente da abordagem comportamentalista (Skinner), pois Bruner

“refere-se ao reforço quando a criança se desenvolve e aprende a pensar de maneira simbólica, representando e transformando o ambiente, o que aumenta a motivação de competência, o controle sobre o comportamento, e esse processo leva-a a desenvolver autocontrole e se auto-reforçar para que a aprendizagem seja reforço de si própria.” (Sílvia Helena de Oliveira Piazentino, CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS)

A instrução e o papel do professor

            Nesta abordagem, os professores são os importantes agentes do processo educacional e devem ter domínio do uso dos recursos com conhecimento e compreensão deste uso, de acordo com o assunto, assumindo ainda tarefas de comunicador e figura de identificação. Além disso,  o professor tem importantes responsabilidades na organização curricular, tratando-se:
·      da planificação: estruturação do material e sua disposição em sequências de aprendizagem
·      da motivação: criação e manutenção de predisposições para a resolução de problemas
A sugestão é que este trabalho deve ser desenvolvido em equipes de planejamento curriculares, incluindo vários professores, com o apoio de especialistas em pedagogia, didática e psicologia. As equipes deverão ainda avaliar os programas por meio de observação e experimentação, não somente o sucesso das aprendizagens, mas também da funcionalidade dos próprios programas de ensino.

As propostas de Bruner – síntese

Em resumo, a teoria de Bruner está pautada na participação ativa do estudante para o desenvolvimento do seu processo de aprendizagem, a aprendizagem por meio da descoberta, a exploração de novas alternativas, o currículo em espiral e a aprendizagem segundo as fases internas do desenvolvimento. Ao adotar esta ideia, Bruner reconhece que a criança nem sempre é capaz de construir por si só, mas depende de uma direção dada por seu educador.  Aquilo que é absorvido em sua  consciência é o que foi aceito interpessoalmente; somente aquilo a que a criança pode assegurar "concordância compartilhada" torna-se parte de sua representação do mundo.

Implicações da teoria de Bruner para o ensino de física

As ideias de Bruner influenciaram e ainda influenciam muitas abordagens ao ensino da Física. O projeto PSSC é um dos exemplos que engloba a atividade de investigação do aluno. Outro exemplo é o que ocorre nas aulas de laboratório, aplicadas em diversas escolas do país, é possível ver esta tendência de fazer o aluno explorar alternativas que levem à solução do problema ou à "descoberta". Muitos livros com a proposta de um currículo em espiral também foram escritos.

No entanto, o método da descoberta, tem sido bastante questionado, pois, a aprendizagem por descoberta pode dar-se de forma mecânica, ou seja, o estudante só consegue alcançar aquele resultado por meio do caminho proposto pelo professor, memorizando passos sem que proponha alternativas para uma nova solução à situação problema. O próprio Bruner, anos após a publicação de seus livros sobre sua teoria de aprendizagem, revisa algumas questões e propõe a adaptação no ensino em favor de contextualizá-las aos problemas que a sociedade enfrenta. A ideia de que a experimentação levaria à compreensão ou até mesmo à redescoberta de leis científicas não pode ser exclusividade em um projeto.

 “Um bom intuitivo pode ter nascido com algo especial, mas a sua intuição funciona melhor quando ele tem um sólido conhecimento do conteúdo, uma familiaridade que dá substância à intuição” (BRUNER, 1960, p.56).

Contudo, acredito que as ideias de Bruner foram fundamentais para a ressignificação do ensino de Física e para a evolução do processo de ensino/aprendizagem utilizado até então. A perspectiva de uma aprendizagem por descoberta pode ser o gatilho para despertar a curiosidade dos jovens, atitude necessária ao desenvolvimento de outra habilidades, sendo portanto, muito importante no ensino de Física.

Fontes:


DIRETRIZES PEDAGÓGlCAS PARA MODELAGEM DE USUÁRIO. Acesso em 21 de Setembro, 2014.


Moreira, M. (1999). TEORIAS DE APRENDIZAGEM, 1–55. 

RESENHA: A TEORIA DE ENSINO DE BRUNER - MeuArtigo Brasil Escola. Acesso em 21 de Setembro, 2014.

TEORIA DE J. BRUNER. Acesso em 21 de Setembro, 2014.